sexta-feira, 5 de junho de 2009

Monnique Frazão


Pensava na vida, e na continuação. Pensava na música que viria, e pensava no salto.
Ele estava sentado no banco duro, pensando, com a mochila lotada.
A mochila trazia as revelações do dia, a sua rotina, o seu futuro diário, e o passado também.
Trazia a beleza e a sujeira dos dias de sol, vento, flores, e chuva, esse último andava se repetindo.
O banco duro era de um ônibus. Haviam duas senhoras que o olhavam sem parar, nitidamente. Ele achou que fosse por causa das roupas.
Chegou, enfim, à parada: o monumento quase centenário. Um lugar que parecia ter uma fita de isolamento, barrando o público. A fita, na verdade, cobria os olhos do povo.
Entrou, sentou, descançou. O ambiente lhe agradava extremamente, e a alegria pulsava nos olhos, no cabelo, nas unhas, na boca. Ele tinha dúvidas, mas sabia que o que iria fazer era, de certo modo, profissional, apesar de não parecer assim para a maioria. Sem dúvidas, um divertimento também. Em suma: um trabalho prazeroso.
Pensou na beleza, na estética, no trabalho e na desconsideração deste. Pensou, de novo, na vida e na continuação.
Sentou numa cadeira, frente a si mesmo. Gostava das luzes que arrodeavam o espelho.
E então lembrou do vestido, dos cilhos, do salto, da peruca.
Virou uma francesa de meia boca. Linda e glamurosa, gostosa, fina.
Perdeu o concurso para a Maria Ryta.
Depois guardou tudo dentro da mochila, de novo.

Um comentário:

Honório Félix disse...

E tudo voltou a ser como era antes.