segunda-feira, 29 de junho de 2009

Humanos (vs.24; 1Test.24)


Não, não sei. Talvez eu seja o próprio pecado, não é? Talvez eu goste de ser tratado assim, como um estorvo social, alguém de patente extremamente inferior, que não mereça respeito. Um terrível ser de vestes características, gesticulação característica, fala característica. Aquele chiado derrapado no ''ch'' das palavras, como chiclete, é extremamente engraçado não?
Não, melhor dizendo, eu sou a graça em pessoa, prazer. E talvez por isso eu goste de ser tratado dessa maneira. Faço as pessoas rirem, e até me esqueço do caos social que é tudo isso. Pra você não, pra você não tem caos nenhum. Sou uma figura inválida, desprovida de pudor, ou qualquer tipo de vergonha - sou um sem-vergonha: meu pai já dizia.
Pois esse sem-vergonha dá a cara a tapa quando se fala em assuntos da vida, diferente de muita gentinha ai que só mostra aparência, como aquela gentalha que tem uma Hilux nova a cada ano, e a conta de luz atrasada em casa. Minha conta também vive atrasada, mas pelo menos eu não preciso negar isso. É, pronto! Talvez seja essa a pilha que existe em vocês contra nós não é? A sinceridade. Não a sinceridade supérfula, mas a sinceridade interna sabe? A sinceridade mais sincera que alguém pode dar a sí mesmo. Vocês são um bando de renegados.
Eu aqui me glorificando como se estivesse um passo à frente de vocês, como se conhecesse algo a mais. Não, não conheço nada. A única diferença é que sou cego somente de um olho, vocês não veem merda nenhuma. Calma, calma, não precisa se exaltar, já estou de saída. Sua benção, padre. Padre, sua benção.

sábado, 27 de junho de 2009

+ 25 - 06 - 09


"MJ" estava escrito numa blusa - tecido de má qualidade;
no rosto da mulher havia certa angústia constipada.
E envolta do som frenético de Billie Jean, tocado por um camelô de CD'S, ela caminhava as ruas lotadas e sujas do centro da cidade, numa tarde quente de junho, um horário pico.
Passava frente a uma banca de revistas, com os letreiros dos jornais escancarados: "Morre Michael Jackson".
Olhou, comprou e continuou a caminhar com passos compassados, observando tudo.
A blusa e o "MJ" escrito nela, davam enfase à lembrança do pop astro.
Dia 25, morreu também a atriz Farrah Fawcet.
Dia seguinte, estava lá: "FF".

domingo, 21 de junho de 2009

O Mistério da Cascata


Para o público interessado em filmes que aguçam as sensações de medo, susto e pavor, que tal um enredo desses ao vivo? O espetáculo “O Mistério da Cascata” é uma comédia de humor negro, baseado no cinema de terror e suspense, e conta a história de uma família rica que perde toda a sua fortuna por causa de dívidas, tendo a jovem donzela que casar com um galã para assegurar uma vida confortável aos familiares. Porém, como nos contos de fadas, uma terrível bruxa fará maldades para impedir esta união e, principalmente, que um grande mistério venha à tona.

25 e 26 de Junho/09 (quinta e sexta).
No teatro Morro do Ouro,
(anexo ao Theatro José de Alencar).
Às 19:00h
Ingressos: R$ 3,00 e 6,00.

O Amor


Por várias vezes olhei e vi a verdade. Ali estava contida uma doce vontade de chegar, estar, continuar. Um local referência para a emoção, a expressão e, de novo, a verdade. Havia verdade no olho daquele ser. Um olho de cor amarela, mas não de amarelo queimado, assado ou frito. Era amarelo daquele amarelo que é amarelo mesmo, assim, amarelo.
Vivos: o olho e a cor.
Vivo também estava o sentido cardeal norte daquele ser, apontando para um bebê em fase de crescimento. Engatinhava uma velocidade desfavorável à do olho, pois ia devagar a criança, em direção àquela pupila dilatada [estava escuro ali].
O infanto, apesar de pequeno, sabia que era o olho a sua meta. O instinto o fazia aproximar-se do amarelo. - talvez fosse a cor a causa do vislumbramento. E o olho era sim, vislubrante.
Mal sabia o neném que era a cor, o perigo.


Jesuíta Barbosa

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Uma flor de Dama



Encanta, pairando a metáfora.
Da roda, que embevece e entoteia.
Mostra à cena, espetáculo real.
Mostra a vida, ávida, que vai rodando, rodando.
E então a beleza se mistura com turva água salubre:
a água dos vales de lágrimas, que vão embora junto a cílios postiços.
É a flor que bate, é a flor que ama.
És Dama-da-noite, uma flor de dama.

Jesuíta Barbosa
15/06/09 - 23:03h

Dança Contemporânea

7,8:
tac tac tac tac tac,
tac tac tac tac tac tac tac tac.
[...]
acelera - tactactactactactactactac. foi.
virou:
tac tac tac tac tac tactactactactac
e tac! tac! tac!

pula: TAC!

e: tac tac tac tac tac, andou...
andou...

tactactactactactac -

Foi. Fim.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Paralelepípedos

Escrevo de Parnamirim, PE.
Não sei porque, mas sinto um bem estar em saber que escrevo daqui. Não porque nasci, me criei, cresci, vivi, aprendi aqui nesse estado, mas por outra coisa.
Parnamirim tem um ar nostálgico, pelo passado que persiste em existir na minha mente e em meu corpo inteiro, como uma parte de mim. E é.
As ruas daqui são de paralelepípedos: eles são um dos principais pontos de recordação. Blocos de pedra cruzados e enfileirados pela cidade inteira. Imagino o trabalho de construi-la.
De onde escrevo, posso ver a casa de minha avó, ali ó. E do lado direito a casa de minha bisavó, do lado esquerdo a casa de minha tia, e mais do lado a casa dos conhecidos - sempre conhecidos.
Essa cidade conta silenciosamente minhas lembranças , como uma mãe. Minha mãe que em todo mês de Julho toca a música sinfonada pelo maestro, benzendo a padroeira mãe da Virgem Santa.
Neste momento, começa a escureçer: são 17:48. Fortaleza deve estar mais clara, ainda.
A pouca luz inebria o dia de terça-feira. Dia de feira de verdade, aqui. Carros de boi, ônibus, e motos, muitas motos: essas que se repetem em todo interior.
O cheiro daqui é específico, por isso não há explicação, mas posso dizer que tem uma pitada de pé-de-castanhola: dificultei.
Escureceu.
Acordo amanhã, às 6:00h, e volto para Fortaleza.
Ficam aqui meus beijos e abraços.
Vão comigo as saudades.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Monnique Frazão


Pensava na vida, e na continuação. Pensava na música que viria, e pensava no salto.
Ele estava sentado no banco duro, pensando, com a mochila lotada.
A mochila trazia as revelações do dia, a sua rotina, o seu futuro diário, e o passado também.
Trazia a beleza e a sujeira dos dias de sol, vento, flores, e chuva, esse último andava se repetindo.
O banco duro era de um ônibus. Haviam duas senhoras que o olhavam sem parar, nitidamente. Ele achou que fosse por causa das roupas.
Chegou, enfim, à parada: o monumento quase centenário. Um lugar que parecia ter uma fita de isolamento, barrando o público. A fita, na verdade, cobria os olhos do povo.
Entrou, sentou, descançou. O ambiente lhe agradava extremamente, e a alegria pulsava nos olhos, no cabelo, nas unhas, na boca. Ele tinha dúvidas, mas sabia que o que iria fazer era, de certo modo, profissional, apesar de não parecer assim para a maioria. Sem dúvidas, um divertimento também. Em suma: um trabalho prazeroso.
Pensou na beleza, na estética, no trabalho e na desconsideração deste. Pensou, de novo, na vida e na continuação.
Sentou numa cadeira, frente a si mesmo. Gostava das luzes que arrodeavam o espelho.
E então lembrou do vestido, dos cilhos, do salto, da peruca.
Virou uma francesa de meia boca. Linda e glamurosa, gostosa, fina.
Perdeu o concurso para a Maria Ryta.
Depois guardou tudo dentro da mochila, de novo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Grande Circular


Deus é tudo na vida das pessoas. Quem diz que não é, tá errado. Ele é sim, e abençoa a gente sempre. Eu digo porque sou estudado. E ainda tem alguns que falam por ai que foi evolução. Evolução é uma bosta. Porque eu digo: tem a evolução, e tem a divindade... Dinvindade não, como é... Criação. Evolução e criação.
É assim: você nasce, ai você tem duas escolhas, a evolução ou a criação. Ai você escolhe e pronto, vá pro lado que você quiser. Mas eu digo uma coisa: tem nada de chimpanzé não, nem de macaco nenhum. Teve a arca, e só viveu quem tava na arca. Aí pronto. Foi só água e pronto.
E ainda tem a história da pedra que caiu em cima dos dinossauros, que a ciência fala tanto. Como é que caiu uma pedra se o mundo ainda é redondo? Redondo igual uma laranja? Porque é redondo, eu sei porque eu sou estudado. E você vê que uma vez eu perguntei para a minha grande professora de ciências: " tem certeza que o mundo é vindo dos macaco?" E ela me respondeu: " não sei, só falo o que me mandaram dizer".

Anônimo (do trajeto Dragão do Mar - Terminal Ant. Bezerra).