quarta-feira, 29 de julho de 2009

Surabaya




Hoje anoitece devagar demais. Venta demais. Uma sensação de fome, que não é, me consome. Um anoitecer incômodo, ao som de Surabaya Johnny, cantado nacionalmente por alguém interessado em Brecht. Vi uma passagem de "O Beijo no Asfalto" num livro e senti vontade de já ter lido. Sinto vontade de tantas letras, tantas páginas, oráculos, horóscopos, autores, magazzines, palavras-cruzadas. Só sinto vontade. Simples.
Hoje anoitece, e eu vejo o vazio que remete a discussões paranóicas como a de uma noite passada, que falava sobre metas, desejos, anseios, ingressão em faculdade, escolhas. É uma cobrança intermediária [ào] desleixo. Daí tudo acaba nesse texto sem idealização. Confuso - como o autor.
"O Beijo no Asfalto" ali do lado e eu parado numa cadeira de balanço frente a uma janela branca, projetando um muro de tijolos brancos. Aprecio a vista. "O Beijo no Asfalto" ali do lado, e Brecht fuma um cigarro vencido.
- senta aqui rapaz. - ele diz.

sábado, 25 de julho de 2009

domingo, 12 de julho de 2009

Parabólica


O vento passava por seus cabelos como um carinho intenso e interminável. O vento era tudo o que ela precisava para um consolo imediato, um beijo de adeus, um abraço. Sabia ela que era o vento um movedor de nuvens, um gerador de forças, um agente de erosão. Mas não, ali o vento era impressindívelmente um carinho sincero.
Vestia um longo amarelo, de tafetá e detalhado em rendas. O decote formava um v, e dava enfase ao seios roliços. Junto ao vento, o vestido fazia movimentos num vai e vem detalhadamente bonito. O carinho ia para a direita, então iam junto o cabelo, o vestido, e esvaia-se os pensamentos. O turbilhão de emoções que passara por ela alguns minutos antes, ali já não estava mais.
Seus olhos viam as luzes da cidade lá de cima, do alto de um prédio em construção. As luzes dos carros, dos apartamentos, dos postes eram embaçadas, como uma pasta em movimento.
Estava ali descalça de saltos, de sorte, de medo.
E num movimento curto e decisivo, ela pulou. E sorriu.

Jesuíta Barbosa