sábado, 30 de maio de 2009

Corpo Delito

Do lado centro-esquerdo de meu peito está meu coração. Ele bate e então eu estou vivo. 
Tenho um rítmo acelerado, e por isso sempre confundem com nervosismo: não, é natural. 
E ele é acelerado porque, talvez, não saiba o que há de vir [Devir - uma filosofia].
E se acelera sem saber superar sensações sacanas. [S]
Meu coração bate do lado centro-esquerdo de meu peito. 
Ele quer viver sempre o máximo, e não tolera que algo passe, pois é exacerbado e empolgado. Exagerado, meu coração continua batendo e me fazendo viver. 
E eu me confundo com ele, perguntando a mim mesmo porque e até quando vou bater. 
Bato em todo canto: na esquina, nos meus pulsos, em minha cara. E depois me questiono porque fico roxo, como se fosse um idiota. 
Olho o espelho e vejo Nada. E bato no Nada, afirmando que não gosto dele. Depois beijo o Nada, e passo um pó compacto.
Quando bato em meu coração, ele bate em mim e me mostra que estou vivo.

Jesuíta Barbosa


sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rimprovisando


RIMPROVISANDO!
Um espetáculo sem ensaios.

Dias 23, 30/05 e 06, 13/06.
no TEATRO CHICO ANYSIO, 19h.

Direção: Moisés Loureiro

Elenco: Bruno Façanha, Mael Costa, Moisés Loureiro + convidados

+ informações: www.rimprovisando.com.br
(85) 8813-5890 (Produção)
e-mail: producao@rimprovisando.com.br


Apoio: HERBALIFE, WGRAF e Pé No Chão.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Coriza


Eu me percebo enfermo, mas tento me desfazer dessa palavra forte demais: Enfermo -ela me faz parecer ser um doente em ultimo estado. Não, tenho um simples congestionamento nas vias respiratórias e uma leve tosse sem muco algum. E assim, talvez, consiga atrair boas energias - já me apego ao Segredo.
Fui hoje ao hospital sozinho, o que é motivador - me desapego às soluções maternas de quando eu era menor, e me percebo adulto, cheio de futuro. Medo: já vou ao hospital sozinho e já não tenho mais a papinha de avelã que nunca gostei, mas que sempre aceitei. 
A recepcionista do local não olhou pra mim, e me chamou de criança. - Eu sempre achei que elas fazem sexo com os zeladores. Me disse que eu era o n° 4. 
"José, você é o número quatro". - a quarta foda, depois de três na minha frente.
Chegou minha vez e eu entrei no consultório: a doutora também não olhou pra mim de primeira.
Eu não entendo porque, quando estamos diante de um Dr., o tratamos como um ser superior.

Eu estou com faringite. Faringite que eu suponho ter haver com faringe.
Preciso de Claritin D e Percof.

Nem ela me disse do que se tratava, nem eu perguntei.
E só depois eu percebi que aquela doutora não era a recepcionista.

E as namorada?

1-Eu sei.

2-Sabe?

1-Sei.

2-O que?

2-Eu também sei.    

1-Sabe?       

2-Sei.

1-O que?

2-Naquele dia eu corri do acontecido. Não podia nem olhar pra trás. Meus olhos flamejavam como se tivesse espremido uma cebola neles. Tudo se tornou feio. Eu me tornei feio. Eu, correndo do acontecido sem olhar para trás.     

1-Era algo quase inexplicável. Um nojo extremo. Uma vergonha. Sentia algo no estômago. Como se tivesse engolido uma cobra inteira, sem mastigar.

2-Tu!

1-Vai tu!

2-Eu não, vai tu!

1-Tu primeiro.

2-Não!

1-Porque?!

2-Vai tu!

1-Porque?

2-Sei lá!

1-Então!

2-Não sei.

1-E ai?!

2-E tu?!

1-Depois!

2-Depois quando?

1-Depois de tu!

2-Tá bom, pois vêm.

2-Eu poderia ter ficado em casa assistindo TV, e comendo o arroz de cada dia feito pela minha mãe. Não! O mesmo arroz de sempre, idêntico. Aquele que eu engulo todo santo dia, como um oficio, uma obrigação. Engolir um arroz branco, seco e insípido. Sem graça.

1-Talvez eu devesse ter estudado trigonometria. Os cálculos dos ângulos interessam a minha covardia. Não! Um covarde estudando ângulos geométricos porque pensa estar se desfazendo de pensamentos mundanos. Um mentiroso.

2-Como se tivesse espremido uma cebola.

1-Como se tivesse engolido uma cobra inteira.


Jesuíta Barbosa

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Corpos Aprisionados


O Centro de Experimentação em Movimentos propõe a dança como a possível exteriorização de sua (minha e tua) vontade, mediante a matéria ou intenção proposta. Me sinto induzido a pensar e discutir comigo mesmo o porque de estar fazendo algo: aquilo. Questiono o que posso transmitir publicamente e de que maneira oferecer isso a um publico, em geral, desconhecido.
Me invado, então, de força. Uma força que me motiva a dançar aquela dança minha, mesmo que impulsionada - transformada em algo meu, de intimidade.
Escutei hoje duas palavras que, juntas, me fazem pensar. O "Grito Calado", dito em conversa sobre intenção, se faz presente e pertinente no "Corpos. E me põe não só calado, mas amarrado, e me faz ver, à minha frente, a luta pela libertação, ainda que essa luta se faça de maneira contraditória ao que a maioria julgue correta. É como se o desejo de fulga se fizesse com o aprisionamento. Uma contradição, sim. E a guerra é travada! A guerra da vontade de lutar contra. Contra o que: escreva aqui a sua resposta. 
No decorrer, vejo a dilaceração de corpos, que antes pareciam estar condicionados ao vácuo, e brigar contra isso só faz com que aumente-o. - Quebrar algo pode ser perigoso: talvez voce se corte com os cacos que se espalham.
E se faz o inicio, e o meio e o meio. 

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Esporte aquático

Nada me mostra o porquê de eu estar escrevendo agora. Não sei qual motivo me faz tentar empurrar com tamanha força algo num papel. Tenho mão e letras, mas não tenho idéias. Apenas uma vontade tamanha de escrever algo que não sei o que é.

Nada de interessante invade minha cabeça agora. Sou um escritor patético e insolúvel de temas e assuntos. Sou o uso indiscreto da força abstinente imposta.

Nada do vácuo do abismo vazio.

 

[...]

 

Nada.


Jesuíta Barbosa - 09/07/2008

terça-feira, 19 de maio de 2009

Desvairia Cabocla


O homem tira a planta viva
Dentre a vegetação morta.
O menino, da morte se esquiva
Engolindo de boca torta
Como obrigação para a vida
A planta que o homem corta.

A fêmea entrega o seio
Que nada de leite há
Em desvelo à sua cria
Que põe a boca a sugar.

Em meio à poeira
E em trapos suados,
A família beira
Caminhando calados
                       [A morte
Que de lenta maneira
Aproxima-se...

A seca mãe pobre 
Que em seco lugar caminha
Sem ter um destino nobre,
A cria do meio aninha
E com olhar aflito
Vê que a filha definha.

Vendo a cena da morte
Debaixo d'um juazeiro,
                       [o sertanejo,
De nexo com a sorte,
Vê em breve janeiro
Melhor vida ao porte
Que traz cansado e lento.

Chama então o resto vivo
Pra caminho árido seguir
E deixa a natureza agir
Em meio à triste situação.

Ganhando a pouca carne
O pássaro pisa o corpo
Comendo e roendo osso
Da menina deitada ao chão.

A triste realidade
Não foi vista pelo resto,
Que em pouca velocidade
Demanda futuro honesto.

O vaqueiro nordestino
De mão e pé calejado
Sonha com melhor
                      [destino
Olhando prum céu rajado
De nuvem grandes e espessas.

Enquanto de longe aguarda
Um bicho preto-alado.

Jesuíta Barbosa
[Poesia fabricada por mim, em 2007, para o 10º festival Master de poesia.]

domingo, 17 de maio de 2009

Vegetal Natural

Era explendorosa perante as outras flores daquele jardim, embora estivesse escondida. Uma espécie rara, talvez nunca antes avistada por ninguém, se encontrava presente em frente a um prédio muito alto, na zona sul de uma grande cidade.
De caule curto, pétalas alongadas e cor verde (nos seus mais variados tons), o ser vivo se mostrava excêntrico e meigo, e era essa contradição que o deixava mais belo. Tinha o aroma desconhecido que sempre sonhamos em sentir, aquele aroma inconfundível que nunca experimentamos - aquele mesmo. Era orvalhada, a flor. Não era, esse orvalho, proveniente do tempo, ou da chuva. Ele brotava do interior dela, do lado de dentro do fundo, de onde talvez também viesse o aroma.
E, escondido, o vegetal crescia muito devagar, se fazendo cada vez mais bonito - e talvez por estar escondido do olho de qualquer ser vivo é que se fazia mais bonito ainda. Uma beleza sincera, então. Uma beleza parecida com aquelas que nós, seres humanos, vemos só de vez em quando, caminhando numa rua curta de janelas com flores, ou vendo o sorriso de um bebê, ou batendo a massa de um bolo, ou.
A flor! Crescia encantada, naquele terreno de jardim, fabricado para a frente de um prédio muito alto, na zona sul de uma grande cidade. Ela, em sua maravilha natural, projetava para o mundo tudo aquilo que uma planta precisa para se enquadrar num ecossistema. Cor verde, aroma inconfundível, orvalho brotado de seu interior, atração. Sendo assim, veio então um menino vestindo uma camisa verde e avistou a flor. Deslumbramento espontâneo.
O ser arrancou a flor pela raiz, e a plantou novamente, no seu umbigo.

Jesuíta Barbosa