segunda-feira, 25 de maio de 2009

E as namorada?

1-Eu sei.

2-Sabe?

1-Sei.

2-O que?

2-Eu também sei.    

1-Sabe?       

2-Sei.

1-O que?

2-Naquele dia eu corri do acontecido. Não podia nem olhar pra trás. Meus olhos flamejavam como se tivesse espremido uma cebola neles. Tudo se tornou feio. Eu me tornei feio. Eu, correndo do acontecido sem olhar para trás.     

1-Era algo quase inexplicável. Um nojo extremo. Uma vergonha. Sentia algo no estômago. Como se tivesse engolido uma cobra inteira, sem mastigar.

2-Tu!

1-Vai tu!

2-Eu não, vai tu!

1-Tu primeiro.

2-Não!

1-Porque?!

2-Vai tu!

1-Porque?

2-Sei lá!

1-Então!

2-Não sei.

1-E ai?!

2-E tu?!

1-Depois!

2-Depois quando?

1-Depois de tu!

2-Tá bom, pois vêm.

2-Eu poderia ter ficado em casa assistindo TV, e comendo o arroz de cada dia feito pela minha mãe. Não! O mesmo arroz de sempre, idêntico. Aquele que eu engulo todo santo dia, como um oficio, uma obrigação. Engolir um arroz branco, seco e insípido. Sem graça.

1-Talvez eu devesse ter estudado trigonometria. Os cálculos dos ângulos interessam a minha covardia. Não! Um covarde estudando ângulos geométricos porque pensa estar se desfazendo de pensamentos mundanos. Um mentiroso.

2-Como se tivesse espremido uma cebola.

1-Como se tivesse engolido uma cobra inteira.


Jesuíta Barbosa

2 comentários:

Anônimo disse...

a-do-re-i =O

Tiago Castelo disse...

e aos que são do Teatro, meu digníssimo, se dão logo ao ato de imaginar a cena, de aimaginar o que se passa na cabeça.
e aos que são da dança... é, os da dança têm a vantagem de descobrir mais movimentos para imaginar tal cena. [?]
e o medo da covardia - se é isso que foi interpretado - nos faz querer catar até pedrinhas no chão.

parabéns.