terça-feira, 19 de maio de 2009

Desvairia Cabocla


O homem tira a planta viva
Dentre a vegetação morta.
O menino, da morte se esquiva
Engolindo de boca torta
Como obrigação para a vida
A planta que o homem corta.

A fêmea entrega o seio
Que nada de leite há
Em desvelo à sua cria
Que põe a boca a sugar.

Em meio à poeira
E em trapos suados,
A família beira
Caminhando calados
                       [A morte
Que de lenta maneira
Aproxima-se...

A seca mãe pobre 
Que em seco lugar caminha
Sem ter um destino nobre,
A cria do meio aninha
E com olhar aflito
Vê que a filha definha.

Vendo a cena da morte
Debaixo d'um juazeiro,
                       [o sertanejo,
De nexo com a sorte,
Vê em breve janeiro
Melhor vida ao porte
Que traz cansado e lento.

Chama então o resto vivo
Pra caminho árido seguir
E deixa a natureza agir
Em meio à triste situação.

Ganhando a pouca carne
O pássaro pisa o corpo
Comendo e roendo osso
Da menina deitada ao chão.

A triste realidade
Não foi vista pelo resto,
Que em pouca velocidade
Demanda futuro honesto.

O vaqueiro nordestino
De mão e pé calejado
Sonha com melhor
                      [destino
Olhando prum céu rajado
De nuvem grandes e espessas.

Enquanto de longe aguarda
Um bicho preto-alado.

Jesuíta Barbosa
[Poesia fabricada por mim, em 2007, para o 10º festival Master de poesia.]

Um comentário:

José Ademir disse...

Essa poesia diz muito com simples palavras sobre o povo nordestino, muito bem elaborada e afiada...