segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vanglória

Porque eu teci um vestido cor-de-sangue,

cobri de rubis e diamantes

e entreguei ao destino.

Ele o vestiu, sensato e gentil.

Olha no espelho o dia inteiro

Mas não sabe se fica bem.

.

domingo, 4 de outubro de 2009

Instiga


"Chegar em casa, vai escrever um conto sobre o que aconteceu, né?"

[...]

"Não... Eu não!"


Morram.

sábado, 26 de setembro de 2009

*Party Monster


.
Em celebração às noites clubbers dos anos oitenta em Nova York, a festa terá o tema:

*Party Monster.

Ponha em evidência o que geralmente não agrada!

Apareçe!

Artelaria - Av. da Universidade, 2642 - Altos, Benfica.

.

Trailler do Filme:
http://www.youtube.com/watch?v=F7TGNhVsa94&feature=related

domingo, 20 de setembro de 2009

Demônio Familiar




Meu pai sempre criticou a vizinhança. Dizia pra minha mãe não se enturmar, ficar quieta. Eu não concordava com aquilo, via ser um empecilho para a construção de novas amizades, de segurança no bairro, auxílio. Hoje percebo uma diferença na minha opinião.

Dia desses a vizinha foi convidada para um almoço. Sobre a mesa: pão e vinho.
"Em nome de Jesus, tá é abençoada mulher." - disse ela a minha mãe.
"E essa menina linda, ô glória Senhor!" - disse ela a minha irmã.
E eu na ponta da mesa, calado, observando, esperando.

[...]

"Em nome de Jesus, os problemas vão ser resolvidos." - e me olhou.
"Tá é amarrado todo o mal envolvido aqui nessa casa, Senhor!" - e me olhou.
Vi corpo e sangue derramados sobre a mesa, vi ostentação da Consagrada.
Um ritual de exorcismo, com cabeças tortas, cama tremendo e com direito a 'fuck me' em voz rouca.
Saiu do jantar de barriga cheia.

Dia desses o filho de alguém apareceu, minha irmã convidou para entrar.
"Não! Disseram que aí tem o demônio".

Hoje eu sei que preciso dar meu beijo no rosto da vizinha, para que ela conclua a Via Sacra.


Jesuíta Barbosa

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Números.

Montado num motor de duas rodas, a mulher e o filho recém-nascido na garupa:

-Olha ali o tanto saindo do teatro, putaquepariu.

Mirava com olhos de fogo, um revólver invisível na mão.

-Olha ali: 1, 2, 3, 4 - aquele eu não sei - 5, 6, 7, 8, 9...

Olhei pra ele, encarei:

-10! Prazer.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

OCUPA-SE

Misturando dança, teatro, música, performances e exposições, a artelaria abre mais uma vez a porta emperrada para a visita de gostos e preferências artísticas. Durante o dia estão abertas aulas de yoga e tecido, além do funcionamento da petit lanchonete, que vende desde sanduíches naturais até cervejas e caipirinhas. A noite inicia com apresentações do CEM (Centro de Experimentação em Movimento), seguido de música com a Banda Cabaçal Fulô da Aurora, representando a junção do som nordestino.









Exatamente às 24:00 horas, será apresentada a obra "Married with a Phantom" (Casada com o Fantasma), criada pelos atores-dançarinos Elano Chaves e Daniel Pizamiglio.
A noite continua com muita música ao som do DJ' Mixer Wladimir Cavalcante.

Doe notas e cupons fiscais acima de R$ 5,00 reais.
Prestigie a arte.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O Estranho

Existem três fatores indispensáveis para um rebanho: o chocalho, que está ali sempre presente, batendo ao ouvido do dono, marcando território; a servidão, responsável pelo consumo e satisfação; e a marca à ferro quente, definindo propriedade. Em prática esses fatores se adéquam ao sertão ou algo mais fora de linha, mas que ainda existe. Trago aqui na verdade uma referência ao armazenamento em massa, às fantásticas fábricas de carne, laticínios e derivados Ltda.
E você deve estar se perguntando que merda de assunto é esse, não? Pois bem eu digo: uma história. Digamos “A ovelha desgarrada”, seria um título interessante e usual, não! Não posso deixar que essa história caia na utilidade e nem vai cair, porque eu lhes digo rapaz: as pessoas não veem o que está prático, e a praticidade a que me refiro é feia aos olhos do mundo, é podre e desconhecida. Mas enfim, não sei se está interessado em ouvir essa história absurda. Tudo bem, mas não peça pra que eu pare, não posso guardar parte dela pra mim.
Tudo corria muito bem obrigado antes daquele acontecido. O planejamento de criação, os métodos de alimentação e sua ração diária e calculada, o processo de ordenhamento maquinal afinal tudo se industrializa, a segurança do gado. Tudo é pensado naquele lugar, planejado, detalhado em horários, anotado em pranchetas, atas diárias, tudo branco, limpo, seco. E vermelho, da cor da carne crua virando dinheiro. E é essa a recompensa: salário mensal descontado de taxas urbanas e sindicais: vida pacata e crua como a carne. É assim que vivem os operários de uma indústria de bovinos. Assim vivia eu, mas com um mero destaque. Eu sabia do que acontecia por trás da burocracia, sabia do brilho que cintilava o olho do animal antes do abate. Ofuscante, somente a mim, mas não ache que isso foi um privilégio. Sou eu que carrego na espinha o grito calado do animal, grito consentido, entregue. Eu não sentia pena ou qualquer sentimento de consolo, mas aquilo me incomodava mais que qualquer coisa.
Todos usam branco naquele lugar, uma espécie de limpeza melancólica, apática. Os bois? Esses são divididos em quatro grupos: há ali o grupo dos mansos, que quase não se movem sem ordem, sem empurrão, uns grandes tolos sem culpa, quietos, amedrontados por tudo o que há fora daqueles limites; há também o setor dos ativos, garanhões, procriadores, fortes robustos, sem qualquer outra função a não ser fazer o que lhe induzem. Ali quase não há presença de fêmeas, não! As fêmeas devem ser dóceis, gentis, compassadas e quietas, uma fêmea em si, como se deve; o grupo das leiteiras, amamentadoras, criadoras e fortificadoras de mais futuros enlatados S.A.; e por ultimo e tão quanto desmerecido, o setor dos desgarrados, onde se classificam aqueles que são impulsivos, inquietos, com alguma projeção de futuro sanguíneo, ou aquele que nasce com alguma doença, ou com algo estranho, difícil de ser identificado, ou as aberrações. Desse grupo destacou-se ele.
Ele não era brabo, impulsivo, nem tinha nenhuma projeção de futuro sanguíneo identificável, nem qualquer aberração visível, mas havia algo estranho nele, e todos o olhavam assim com os olhos de quem sabe demais, mas não sabe nada, anotando qualquer coisa em suas pranchetas brancas com caneta vermelha. Eu sabia, sabia pouco, mas sabia. Ele trazia consigo o sinal, e esse radiava em meus olhos. Eu já previa algum ato imprevisível, ou algo que o fizesse mais estranho ainda, e ainda mais lindo, mas não imaginava que seria daquela forma. Não sei se você sabe, não! Você não sabe, mas alguns outros do rebanho também trazem esse sinal. Muitos passam a vida inteira sem notá-lo, alguns o notam, mas fingem ignorá-lo, outros o percebem tarde demais, outros nunca. Ele o percebeu cedo, e foi cedo que ele planejou tudo.
Sim meu rapaz, um animal fazendo planos, porque não? Eu não entendo essa maniazinha que a gente tem de se auto-desclassificar do mundo animal, acho que por isso inventaram a metáfora: a realidade encoberta que não deixa de ser real. Racional? Somos racionais? Talvez haja uma inversão de definições. Eles, talvez. Preciso desconsiderar seu comentário, desculpe.
Voltando: então, alguns dias depois aconteceu. Ouviu-se a sirene e tudo que era branco se espantou. Um deles, de alguma forma havia burlado o sistema de segurança e fugiu naquele instante. Um alvoroço se deu no lugar, a empresa corria risco de multa. Todos foram para fora, e juntos viram ao longe: ele daquela forma. De dentro, o resto do rebanho via aquilo com a baba escoando, loucos de vontade, mas sem nenhum diálogo nem consigo mesmo, como sempre amém. Iluminado e envolto por uma incandescência extrema, ele estava levitando no ar. Percebi que ele sentia a máxima de liberdade, descobrindo o que havia fora dos limites e longe daqueles. Os internos, que continuavam divididos, quietos, com a baba escoando, faziam crescer angústia: um dos bois cuspiu no chão, outro vomitou. Os de branco olhavam para cima sem nenhuma expressão, relatando aquilo nas pranchetas. Minha prancheta estava em branco, sem nada escrito, como sempre esteve.
Enfim, ele levitou até sumir no céu. Eu sabia que ele iria encontrar mais alguns iguais a ele por ai, pelo ar, no desconhecido.




03/08/09

Jesuíta Barbosa

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Surabaya




Hoje anoitece devagar demais. Venta demais. Uma sensação de fome, que não é, me consome. Um anoitecer incômodo, ao som de Surabaya Johnny, cantado nacionalmente por alguém interessado em Brecht. Vi uma passagem de "O Beijo no Asfalto" num livro e senti vontade de já ter lido. Sinto vontade de tantas letras, tantas páginas, oráculos, horóscopos, autores, magazzines, palavras-cruzadas. Só sinto vontade. Simples.
Hoje anoitece, e eu vejo o vazio que remete a discussões paranóicas como a de uma noite passada, que falava sobre metas, desejos, anseios, ingressão em faculdade, escolhas. É uma cobrança intermediária [ào] desleixo. Daí tudo acaba nesse texto sem idealização. Confuso - como o autor.
"O Beijo no Asfalto" ali do lado e eu parado numa cadeira de balanço frente a uma janela branca, projetando um muro de tijolos brancos. Aprecio a vista. "O Beijo no Asfalto" ali do lado, e Brecht fuma um cigarro vencido.
- senta aqui rapaz. - ele diz.

sábado, 25 de julho de 2009

domingo, 12 de julho de 2009

Parabólica


O vento passava por seus cabelos como um carinho intenso e interminável. O vento era tudo o que ela precisava para um consolo imediato, um beijo de adeus, um abraço. Sabia ela que era o vento um movedor de nuvens, um gerador de forças, um agente de erosão. Mas não, ali o vento era impressindívelmente um carinho sincero.
Vestia um longo amarelo, de tafetá e detalhado em rendas. O decote formava um v, e dava enfase ao seios roliços. Junto ao vento, o vestido fazia movimentos num vai e vem detalhadamente bonito. O carinho ia para a direita, então iam junto o cabelo, o vestido, e esvaia-se os pensamentos. O turbilhão de emoções que passara por ela alguns minutos antes, ali já não estava mais.
Seus olhos viam as luzes da cidade lá de cima, do alto de um prédio em construção. As luzes dos carros, dos apartamentos, dos postes eram embaçadas, como uma pasta em movimento.
Estava ali descalça de saltos, de sorte, de medo.
E num movimento curto e decisivo, ela pulou. E sorriu.

Jesuíta Barbosa

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Humanos (vs.24; 1Test.24)


Não, não sei. Talvez eu seja o próprio pecado, não é? Talvez eu goste de ser tratado assim, como um estorvo social, alguém de patente extremamente inferior, que não mereça respeito. Um terrível ser de vestes características, gesticulação característica, fala característica. Aquele chiado derrapado no ''ch'' das palavras, como chiclete, é extremamente engraçado não?
Não, melhor dizendo, eu sou a graça em pessoa, prazer. E talvez por isso eu goste de ser tratado dessa maneira. Faço as pessoas rirem, e até me esqueço do caos social que é tudo isso. Pra você não, pra você não tem caos nenhum. Sou uma figura inválida, desprovida de pudor, ou qualquer tipo de vergonha - sou um sem-vergonha: meu pai já dizia.
Pois esse sem-vergonha dá a cara a tapa quando se fala em assuntos da vida, diferente de muita gentinha ai que só mostra aparência, como aquela gentalha que tem uma Hilux nova a cada ano, e a conta de luz atrasada em casa. Minha conta também vive atrasada, mas pelo menos eu não preciso negar isso. É, pronto! Talvez seja essa a pilha que existe em vocês contra nós não é? A sinceridade. Não a sinceridade supérfula, mas a sinceridade interna sabe? A sinceridade mais sincera que alguém pode dar a sí mesmo. Vocês são um bando de renegados.
Eu aqui me glorificando como se estivesse um passo à frente de vocês, como se conhecesse algo a mais. Não, não conheço nada. A única diferença é que sou cego somente de um olho, vocês não veem merda nenhuma. Calma, calma, não precisa se exaltar, já estou de saída. Sua benção, padre. Padre, sua benção.

sábado, 27 de junho de 2009

+ 25 - 06 - 09


"MJ" estava escrito numa blusa - tecido de má qualidade;
no rosto da mulher havia certa angústia constipada.
E envolta do som frenético de Billie Jean, tocado por um camelô de CD'S, ela caminhava as ruas lotadas e sujas do centro da cidade, numa tarde quente de junho, um horário pico.
Passava frente a uma banca de revistas, com os letreiros dos jornais escancarados: "Morre Michael Jackson".
Olhou, comprou e continuou a caminhar com passos compassados, observando tudo.
A blusa e o "MJ" escrito nela, davam enfase à lembrança do pop astro.
Dia 25, morreu também a atriz Farrah Fawcet.
Dia seguinte, estava lá: "FF".

domingo, 21 de junho de 2009

O Mistério da Cascata


Para o público interessado em filmes que aguçam as sensações de medo, susto e pavor, que tal um enredo desses ao vivo? O espetáculo “O Mistério da Cascata” é uma comédia de humor negro, baseado no cinema de terror e suspense, e conta a história de uma família rica que perde toda a sua fortuna por causa de dívidas, tendo a jovem donzela que casar com um galã para assegurar uma vida confortável aos familiares. Porém, como nos contos de fadas, uma terrível bruxa fará maldades para impedir esta união e, principalmente, que um grande mistério venha à tona.

25 e 26 de Junho/09 (quinta e sexta).
No teatro Morro do Ouro,
(anexo ao Theatro José de Alencar).
Às 19:00h
Ingressos: R$ 3,00 e 6,00.

O Amor


Por várias vezes olhei e vi a verdade. Ali estava contida uma doce vontade de chegar, estar, continuar. Um local referência para a emoção, a expressão e, de novo, a verdade. Havia verdade no olho daquele ser. Um olho de cor amarela, mas não de amarelo queimado, assado ou frito. Era amarelo daquele amarelo que é amarelo mesmo, assim, amarelo.
Vivos: o olho e a cor.
Vivo também estava o sentido cardeal norte daquele ser, apontando para um bebê em fase de crescimento. Engatinhava uma velocidade desfavorável à do olho, pois ia devagar a criança, em direção àquela pupila dilatada [estava escuro ali].
O infanto, apesar de pequeno, sabia que era o olho a sua meta. O instinto o fazia aproximar-se do amarelo. - talvez fosse a cor a causa do vislumbramento. E o olho era sim, vislubrante.
Mal sabia o neném que era a cor, o perigo.


Jesuíta Barbosa

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Uma flor de Dama



Encanta, pairando a metáfora.
Da roda, que embevece e entoteia.
Mostra à cena, espetáculo real.
Mostra a vida, ávida, que vai rodando, rodando.
E então a beleza se mistura com turva água salubre:
a água dos vales de lágrimas, que vão embora junto a cílios postiços.
É a flor que bate, é a flor que ama.
És Dama-da-noite, uma flor de dama.

Jesuíta Barbosa
15/06/09 - 23:03h

Dança Contemporânea

7,8:
tac tac tac tac tac,
tac tac tac tac tac tac tac tac.
[...]
acelera - tactactactactactactactac. foi.
virou:
tac tac tac tac tac tactactactactac
e tac! tac! tac!

pula: TAC!

e: tac tac tac tac tac, andou...
andou...

tactactactactactac -

Foi. Fim.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Paralelepípedos

Escrevo de Parnamirim, PE.
Não sei porque, mas sinto um bem estar em saber que escrevo daqui. Não porque nasci, me criei, cresci, vivi, aprendi aqui nesse estado, mas por outra coisa.
Parnamirim tem um ar nostálgico, pelo passado que persiste em existir na minha mente e em meu corpo inteiro, como uma parte de mim. E é.
As ruas daqui são de paralelepípedos: eles são um dos principais pontos de recordação. Blocos de pedra cruzados e enfileirados pela cidade inteira. Imagino o trabalho de construi-la.
De onde escrevo, posso ver a casa de minha avó, ali ó. E do lado direito a casa de minha bisavó, do lado esquerdo a casa de minha tia, e mais do lado a casa dos conhecidos - sempre conhecidos.
Essa cidade conta silenciosamente minhas lembranças , como uma mãe. Minha mãe que em todo mês de Julho toca a música sinfonada pelo maestro, benzendo a padroeira mãe da Virgem Santa.
Neste momento, começa a escureçer: são 17:48. Fortaleza deve estar mais clara, ainda.
A pouca luz inebria o dia de terça-feira. Dia de feira de verdade, aqui. Carros de boi, ônibus, e motos, muitas motos: essas que se repetem em todo interior.
O cheiro daqui é específico, por isso não há explicação, mas posso dizer que tem uma pitada de pé-de-castanhola: dificultei.
Escureceu.
Acordo amanhã, às 6:00h, e volto para Fortaleza.
Ficam aqui meus beijos e abraços.
Vão comigo as saudades.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Monnique Frazão


Pensava na vida, e na continuação. Pensava na música que viria, e pensava no salto.
Ele estava sentado no banco duro, pensando, com a mochila lotada.
A mochila trazia as revelações do dia, a sua rotina, o seu futuro diário, e o passado também.
Trazia a beleza e a sujeira dos dias de sol, vento, flores, e chuva, esse último andava se repetindo.
O banco duro era de um ônibus. Haviam duas senhoras que o olhavam sem parar, nitidamente. Ele achou que fosse por causa das roupas.
Chegou, enfim, à parada: o monumento quase centenário. Um lugar que parecia ter uma fita de isolamento, barrando o público. A fita, na verdade, cobria os olhos do povo.
Entrou, sentou, descançou. O ambiente lhe agradava extremamente, e a alegria pulsava nos olhos, no cabelo, nas unhas, na boca. Ele tinha dúvidas, mas sabia que o que iria fazer era, de certo modo, profissional, apesar de não parecer assim para a maioria. Sem dúvidas, um divertimento também. Em suma: um trabalho prazeroso.
Pensou na beleza, na estética, no trabalho e na desconsideração deste. Pensou, de novo, na vida e na continuação.
Sentou numa cadeira, frente a si mesmo. Gostava das luzes que arrodeavam o espelho.
E então lembrou do vestido, dos cilhos, do salto, da peruca.
Virou uma francesa de meia boca. Linda e glamurosa, gostosa, fina.
Perdeu o concurso para a Maria Ryta.
Depois guardou tudo dentro da mochila, de novo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Grande Circular


Deus é tudo na vida das pessoas. Quem diz que não é, tá errado. Ele é sim, e abençoa a gente sempre. Eu digo porque sou estudado. E ainda tem alguns que falam por ai que foi evolução. Evolução é uma bosta. Porque eu digo: tem a evolução, e tem a divindade... Dinvindade não, como é... Criação. Evolução e criação.
É assim: você nasce, ai você tem duas escolhas, a evolução ou a criação. Ai você escolhe e pronto, vá pro lado que você quiser. Mas eu digo uma coisa: tem nada de chimpanzé não, nem de macaco nenhum. Teve a arca, e só viveu quem tava na arca. Aí pronto. Foi só água e pronto.
E ainda tem a história da pedra que caiu em cima dos dinossauros, que a ciência fala tanto. Como é que caiu uma pedra se o mundo ainda é redondo? Redondo igual uma laranja? Porque é redondo, eu sei porque eu sou estudado. E você vê que uma vez eu perguntei para a minha grande professora de ciências: " tem certeza que o mundo é vindo dos macaco?" E ela me respondeu: " não sei, só falo o que me mandaram dizer".

Anônimo (do trajeto Dragão do Mar - Terminal Ant. Bezerra).

sábado, 30 de maio de 2009

Corpo Delito

Do lado centro-esquerdo de meu peito está meu coração. Ele bate e então eu estou vivo. 
Tenho um rítmo acelerado, e por isso sempre confundem com nervosismo: não, é natural. 
E ele é acelerado porque, talvez, não saiba o que há de vir [Devir - uma filosofia].
E se acelera sem saber superar sensações sacanas. [S]
Meu coração bate do lado centro-esquerdo de meu peito. 
Ele quer viver sempre o máximo, e não tolera que algo passe, pois é exacerbado e empolgado. Exagerado, meu coração continua batendo e me fazendo viver. 
E eu me confundo com ele, perguntando a mim mesmo porque e até quando vou bater. 
Bato em todo canto: na esquina, nos meus pulsos, em minha cara. E depois me questiono porque fico roxo, como se fosse um idiota. 
Olho o espelho e vejo Nada. E bato no Nada, afirmando que não gosto dele. Depois beijo o Nada, e passo um pó compacto.
Quando bato em meu coração, ele bate em mim e me mostra que estou vivo.

Jesuíta Barbosa


sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rimprovisando


RIMPROVISANDO!
Um espetáculo sem ensaios.

Dias 23, 30/05 e 06, 13/06.
no TEATRO CHICO ANYSIO, 19h.

Direção: Moisés Loureiro

Elenco: Bruno Façanha, Mael Costa, Moisés Loureiro + convidados

+ informações: www.rimprovisando.com.br
(85) 8813-5890 (Produção)
e-mail: producao@rimprovisando.com.br


Apoio: HERBALIFE, WGRAF e Pé No Chão.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Coriza


Eu me percebo enfermo, mas tento me desfazer dessa palavra forte demais: Enfermo -ela me faz parecer ser um doente em ultimo estado. Não, tenho um simples congestionamento nas vias respiratórias e uma leve tosse sem muco algum. E assim, talvez, consiga atrair boas energias - já me apego ao Segredo.
Fui hoje ao hospital sozinho, o que é motivador - me desapego às soluções maternas de quando eu era menor, e me percebo adulto, cheio de futuro. Medo: já vou ao hospital sozinho e já não tenho mais a papinha de avelã que nunca gostei, mas que sempre aceitei. 
A recepcionista do local não olhou pra mim, e me chamou de criança. - Eu sempre achei que elas fazem sexo com os zeladores. Me disse que eu era o n° 4. 
"José, você é o número quatro". - a quarta foda, depois de três na minha frente.
Chegou minha vez e eu entrei no consultório: a doutora também não olhou pra mim de primeira.
Eu não entendo porque, quando estamos diante de um Dr., o tratamos como um ser superior.

Eu estou com faringite. Faringite que eu suponho ter haver com faringe.
Preciso de Claritin D e Percof.

Nem ela me disse do que se tratava, nem eu perguntei.
E só depois eu percebi que aquela doutora não era a recepcionista.

E as namorada?

1-Eu sei.

2-Sabe?

1-Sei.

2-O que?

2-Eu também sei.    

1-Sabe?       

2-Sei.

1-O que?

2-Naquele dia eu corri do acontecido. Não podia nem olhar pra trás. Meus olhos flamejavam como se tivesse espremido uma cebola neles. Tudo se tornou feio. Eu me tornei feio. Eu, correndo do acontecido sem olhar para trás.     

1-Era algo quase inexplicável. Um nojo extremo. Uma vergonha. Sentia algo no estômago. Como se tivesse engolido uma cobra inteira, sem mastigar.

2-Tu!

1-Vai tu!

2-Eu não, vai tu!

1-Tu primeiro.

2-Não!

1-Porque?!

2-Vai tu!

1-Porque?

2-Sei lá!

1-Então!

2-Não sei.

1-E ai?!

2-E tu?!

1-Depois!

2-Depois quando?

1-Depois de tu!

2-Tá bom, pois vêm.

2-Eu poderia ter ficado em casa assistindo TV, e comendo o arroz de cada dia feito pela minha mãe. Não! O mesmo arroz de sempre, idêntico. Aquele que eu engulo todo santo dia, como um oficio, uma obrigação. Engolir um arroz branco, seco e insípido. Sem graça.

1-Talvez eu devesse ter estudado trigonometria. Os cálculos dos ângulos interessam a minha covardia. Não! Um covarde estudando ângulos geométricos porque pensa estar se desfazendo de pensamentos mundanos. Um mentiroso.

2-Como se tivesse espremido uma cebola.

1-Como se tivesse engolido uma cobra inteira.


Jesuíta Barbosa

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Corpos Aprisionados


O Centro de Experimentação em Movimentos propõe a dança como a possível exteriorização de sua (minha e tua) vontade, mediante a matéria ou intenção proposta. Me sinto induzido a pensar e discutir comigo mesmo o porque de estar fazendo algo: aquilo. Questiono o que posso transmitir publicamente e de que maneira oferecer isso a um publico, em geral, desconhecido.
Me invado, então, de força. Uma força que me motiva a dançar aquela dança minha, mesmo que impulsionada - transformada em algo meu, de intimidade.
Escutei hoje duas palavras que, juntas, me fazem pensar. O "Grito Calado", dito em conversa sobre intenção, se faz presente e pertinente no "Corpos. E me põe não só calado, mas amarrado, e me faz ver, à minha frente, a luta pela libertação, ainda que essa luta se faça de maneira contraditória ao que a maioria julgue correta. É como se o desejo de fulga se fizesse com o aprisionamento. Uma contradição, sim. E a guerra é travada! A guerra da vontade de lutar contra. Contra o que: escreva aqui a sua resposta. 
No decorrer, vejo a dilaceração de corpos, que antes pareciam estar condicionados ao vácuo, e brigar contra isso só faz com que aumente-o. - Quebrar algo pode ser perigoso: talvez voce se corte com os cacos que se espalham.
E se faz o inicio, e o meio e o meio. 

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Esporte aquático

Nada me mostra o porquê de eu estar escrevendo agora. Não sei qual motivo me faz tentar empurrar com tamanha força algo num papel. Tenho mão e letras, mas não tenho idéias. Apenas uma vontade tamanha de escrever algo que não sei o que é.

Nada de interessante invade minha cabeça agora. Sou um escritor patético e insolúvel de temas e assuntos. Sou o uso indiscreto da força abstinente imposta.

Nada do vácuo do abismo vazio.

 

[...]

 

Nada.


Jesuíta Barbosa - 09/07/2008

terça-feira, 19 de maio de 2009

Desvairia Cabocla


O homem tira a planta viva
Dentre a vegetação morta.
O menino, da morte se esquiva
Engolindo de boca torta
Como obrigação para a vida
A planta que o homem corta.

A fêmea entrega o seio
Que nada de leite há
Em desvelo à sua cria
Que põe a boca a sugar.

Em meio à poeira
E em trapos suados,
A família beira
Caminhando calados
                       [A morte
Que de lenta maneira
Aproxima-se...

A seca mãe pobre 
Que em seco lugar caminha
Sem ter um destino nobre,
A cria do meio aninha
E com olhar aflito
Vê que a filha definha.

Vendo a cena da morte
Debaixo d'um juazeiro,
                       [o sertanejo,
De nexo com a sorte,
Vê em breve janeiro
Melhor vida ao porte
Que traz cansado e lento.

Chama então o resto vivo
Pra caminho árido seguir
E deixa a natureza agir
Em meio à triste situação.

Ganhando a pouca carne
O pássaro pisa o corpo
Comendo e roendo osso
Da menina deitada ao chão.

A triste realidade
Não foi vista pelo resto,
Que em pouca velocidade
Demanda futuro honesto.

O vaqueiro nordestino
De mão e pé calejado
Sonha com melhor
                      [destino
Olhando prum céu rajado
De nuvem grandes e espessas.

Enquanto de longe aguarda
Um bicho preto-alado.

Jesuíta Barbosa
[Poesia fabricada por mim, em 2007, para o 10º festival Master de poesia.]

domingo, 17 de maio de 2009

Vegetal Natural

Era explendorosa perante as outras flores daquele jardim, embora estivesse escondida. Uma espécie rara, talvez nunca antes avistada por ninguém, se encontrava presente em frente a um prédio muito alto, na zona sul de uma grande cidade.
De caule curto, pétalas alongadas e cor verde (nos seus mais variados tons), o ser vivo se mostrava excêntrico e meigo, e era essa contradição que o deixava mais belo. Tinha o aroma desconhecido que sempre sonhamos em sentir, aquele aroma inconfundível que nunca experimentamos - aquele mesmo. Era orvalhada, a flor. Não era, esse orvalho, proveniente do tempo, ou da chuva. Ele brotava do interior dela, do lado de dentro do fundo, de onde talvez também viesse o aroma.
E, escondido, o vegetal crescia muito devagar, se fazendo cada vez mais bonito - e talvez por estar escondido do olho de qualquer ser vivo é que se fazia mais bonito ainda. Uma beleza sincera, então. Uma beleza parecida com aquelas que nós, seres humanos, vemos só de vez em quando, caminhando numa rua curta de janelas com flores, ou vendo o sorriso de um bebê, ou batendo a massa de um bolo, ou.
A flor! Crescia encantada, naquele terreno de jardim, fabricado para a frente de um prédio muito alto, na zona sul de uma grande cidade. Ela, em sua maravilha natural, projetava para o mundo tudo aquilo que uma planta precisa para se enquadrar num ecossistema. Cor verde, aroma inconfundível, orvalho brotado de seu interior, atração. Sendo assim, veio então um menino vestindo uma camisa verde e avistou a flor. Deslumbramento espontâneo.
O ser arrancou a flor pela raiz, e a plantou novamente, no seu umbigo.

Jesuíta Barbosa